Rita Cava, bióloga e doutora em nutrição
Especialista em planejamento de dietas com mais de vinte anos de experiência em pesquisa e ensino.
Rita Cava Roda, é bióloga e doutora em Nutrição e Tecnologia dos Alimentos, com mais de 20 anos de experiência em pesquisa e ensino. Ela foi professora na Universidade Simón Bolívar da Venezuela na área de Microbiologia dos Alimentos e na Universidade de Múrcia no curso de Nutrição e no mestrado "Nutrição, Tecnologia e Segurança Alimentar". Em seu currículo, conta também com numerosas publicações em revistas científicas e apresentações em congressos de renome nacional e internacional.
Além disso, é Dietista-Nutricionista e atualmente realiza consultas de nutrição e dietética na clínica Kiré (Múrcia), sendo sua especialidade o planejamento dietético em casos de obesidade, nutrição metabólica, microbiota intestinal e problemas digestivos.
- Licenciada em Biologia.
- Mestre em Ciências dos Alimentos.
- Doutora em Nutrição, Bromatologia e Tecnologia dos Alimentos.
- Graduada em Nutrição Humana e Dietética.
Dra. Rita Cava Roda
Conversamos com a Dra. Rita Cava sobre sua trajetória e recomendações como especialista em uma área tão importante para a saúde como a nutrição.
- O que a levou a se tornar licenciada em Biologia e posteriormente doutora em Nutrição e Tecnologia dos Alimentos?
Desde sempre tive interesse pelo funcionamento dos processos bioquímicos do nosso corpo, de fato me formei com ênfase em Bioquímica. Estudar Biologia me proporcionou o conhecimento sobre como a "ciência básica" é importante para entender cada uma das vias metabólicas que nosso organismo executa e como isso afeta o funcionamento de nossos órgãos.
Uma vez adquirido esse conhecimento teórico de biologia e bioquímica, quis então relacioná-lo com a área prática, fazendo primeiro meu mestrado em "Ciência dos Alimentos" na Universidade Central da Venezuela e, posteriormente, um doutorado em "Nutrição, Bromatologia e Tecnologia dos Alimentos" na Universidade de Múrcia. Esses estudos me permitiram relacionar os conhecimentos teóricos do metabolismo com o impacto real que a nutrição tem sobre ele.
- Também é doutora em bromatologia, o que consiste essa ciência e como a aplica no dia a dia?
A ciência da Bromatologia me permitiu conhecer profundamente a composição nutricional e microbiológica dos alimentos, bem como suas propriedades funcionais e tecnológicas. Esse conhecimento dos alimentos e de suas propriedades facilitou para mim associá-los aos benefícios ou malefícios que podem exercer sobre o ser humano. Além disso, graças à Tecnologia dos Alimentos, posso selecionar os tratamentos e métodos de conservação mais adequados para manter suas propriedades nutricionais e organolépticas (sabor, odor, entre outros) e, ao mesmo tempo, garantir sua inocuidade.
- No seu trabalho de pesquisa, qual considera que foi sua contribuição mais significativa ou que lhe trouxe mais satisfação?
Me sinto satisfeita, em geral, com as conquistas obtidas ao longo da minha carreira profissional na área de pesquisa, especialmente com os resultados das pesquisas durante meu doutorado e pós-doutorado. Especificamente, os estudos realizados sobre a canela, o cravo e a baunilha me permitiram demonstrar que essas especiarias amplamente utilizadas como ingredientes alimentícios têm efeitos benéficos para a saúde. No artigo publicado na revista Foods, 2021, descreve-se um trabalho de pesquisa em que são demonstrados os efeitos antimicrobianos e antioxidantes dessas especiarias naturais, especialmente a sinergia que suas combinações apresentam ao potencializar sua capacidade antimicrobiana. As propriedades dessas especiarias podem ter utilidade prática, por exemplo, nos processos de pasteurização da indústria leiteira, onde ingredientes naturais como a canela e a baunilha podem reduzir as temperaturas utilizadas durante o processo, garantindo a qualidade microbiológica e mantendo a integridade das proteínas do leite em melhor estado.
- Poderia falar-nos sobre alguma pesquisa ou projeto em que esteja trabalhando atualmente e que considera relevante?
Atualmente, estou trabalhando em um projeto relacionado à microbiota intestinal, na clínica Kiré, onde atuo atualmente. Em linhas gerais, a base desse projeto consiste em utilizar kits para analisar a microbiota intestinal dos pacientes, o que nos permite caracterizar de forma individual as populações microbianas que as pessoas possuem e relacioná-las indiretamente com diferentes tipos de doenças. Isso proporciona um diagnóstico muito mais preciso e permite oferecer tratamentos personalizados com base em probióticos e prebióticos, bem como diretrizes nutricionais e de estilo de vida, que, por sua vez, equilibram essa microbiota intestinal e, consequentemente, melhoram a saúde.
- Como tem sido sua experiência profissional combinando pesquisa, consulta e ensino ao longo de sua carreira?
Tem sido fantástica, pois cada etapa tem apoiado a seguinte. A pesquisa me permitiu ter ferramentas para discernir um problema, estabelecer hipóteses e definir objetivos, para então gerar resultados com dados contrastados e relevantes. A parte do ensino me permitiu aprender a me comunicar de forma assertiva com as pessoas, a compreender suas motivações para poder orientá-las e estimulá-las a alcançar suas próprias metas. A combinação dessas duas facetas é o que me capacita para fazer consultas, ou seja, estabelecer um vínculo comunicativo e empático para explicar esses dados científicos em palavras coloquiais, que sejam motivadoras e transmitam esperança, para que o paciente sinta que existe uma solução prática para seu problema cotidiano.
- Fale-nos sobre sua experiência com os pacientes em consultas de nutrição e planejamento dietético. Quais são as principais preocupações que eles apresentam e o que os leva a procurar um dietista-nutricionista?
A principal preocupação expressa por meus pacientes são as consequências do excesso de peso para sua saúde. O médico os encaminha para um nutricionista porque eles têm doenças crônicas como hipertensão, diabetes, entre outras, que são afetadas negativamente pelo excesso de peso. Essas doenças crônicas não transmissíveis são a principal ameaça para a sociedade.
Outras preocupações pelas quais eles procuram consulta incluem a estagnação do peso que geralmente ocorre durante a menopausa, problemas digestivos, síndromes intestinais (especialmente em jovens) e, por último, pessoas que desejam melhorar sua composição corporal.
- Qual é a sua abordagem ao desenvolver um plano alimentar para um paciente?
Para propor uma abordagem, o primeiro passo é realizar uma avaliação abrangente do paciente (anamnese), analisando todas as doenças e problemas pessoais, hábitos alimentares e de estilo de vida que o paciente apresenta, e a partir daí estabelecer os objetivos a serem alcançados, que podem ou não coincidir com os do paciente.
Por exemplo, se uma pessoa tem diabetes e não está muito acima do peso, o plano nutricional é direcionado para melhorar os indicadores de glicose no sangue ou, pelo contrário, se o paciente estiver com excesso de peso, a abordagem seria um plano nutricional para reduzir o peso e incluir controle do açúcar. O mais importante é conhecer as rotinas diárias, preferências e hábitos alimentares do paciente, a fim de elaborar um plano individualizado que ele possa cumprir e que o entusiasme, além de implementar uma educação nutricional.
- Além de uma alimentação saudável e um estilo de vida ativo, costuma recomendar a suplementação da dieta com suplementos alimentares? Em quais situações?
Sou super favorável aos suplementos. Eles são complementos em qualquer dieta que se siga, e a razão é simples: eles fornecem elementos necessários para manter a saúde que não são introduzidos na dieta devido principalmente às preferências ou hábitos da pessoa. Por exemplo, há pacientes que não gostam de peixe, então precisam usar outras fontes de proteínas diferentes, mas, nesse caso, é necessário complementar a dieta com ômega-3. Outro exemplo são pessoas nas quais a saciedade não é completa, então também podem se beneficiar de alguns suplementos que proporcionam essa sensação. No entanto, é importante deixar claro que os suplementos alimentares não substituem uma dieta, mas a complementam.
- Quais são os ingredientes ativos que costuma recomendar com mais frequência?
Os ingredientes que costumo recomendar com mais frequência são ômega-3, magnésio, vitaminas C e D, flavonoides e quercetina, estes últimos ativos de origem vegetal.
- Nos últimos anos, se fala muito sobre microbiota. Qual é o papel da microbiota intestinal na saúde digestiva e também na obesidade?
A microbiota intestinal desempenha um papel predominante e fundamental na saúde digestiva. Atualmente, as evidências científicas não deixam dúvidas de que a saúde digestiva depende do estado da microbiota e que qualquer desequilíbrio (disbiose) será o ponto de partida para diversas patologias, como doenças inflamatórias intestinais, obesidade ou doenças imunológicas e inclusive doenças mentais. Na verdade, atualmente em relação ao projeto de microbiota que estou realizando, existem pacientes encaminhados por dermatologistas que têm vários problemas de pele (psoríase, rosácea) aos quais uma pré-avaliação com o uso do kit e outras análises clínicas determinam que a alteração da microbiota é o que está causando esses desequilíbrios.
Com um plano nutricional, tem sido possível fornecer, juntamente com o tratamento médico, soluções para esses problemas dermatológicos, que muitas vezes têm um componente imunológico. Nesses casos, o uso de probióticos e prebióticos tem resultados positivos em conjunto com a dieta personalizada.
- Você acredita que a população em geral possui uma boa relação com a comida? O que deve ser melhorado?
A relação com a comida possui um contexto social proeminente, tanto no âmbito familiar quanto no círculo de amizades. A pressão exercida nesse nível é tão forte que é muito difícil para as pessoas seguir uma dieta equilibrada, e a isso se soma o efeito da publicidade. Por isso, é importante obter uma boa educação nutricional (não é necessário ser um especialista) que nos permita escolher e combinar os diferentes alimentos de acordo com seu conteúdo de proteínas, gorduras e carboidratos, e assim conseguir manter a pressão social sob controle. Isso deve ser especialmente prioritário com as crianças, que atualmente são a população mais vulnerável e que pode enfrentar maiores problemas de saúde devido à alimentação. Educar em casa, apesar do estilo de vida agitado que levamos, é uma das tarefas fundamentais para alcançar uma boa saúde ao longo da vida.
- Como vê o futuro da alimentação e da nutrição no contexto em que vivemos, com mudanças climáticas e sociais?
Devemos voltar ao básico, ou seja, procurar comprar alimentos o menos processados possível, de origem orgânica e evitar fast food, junk food ou alimentos reaquecidos. A alimentação mais saudável deve ser baseada preferencialmente em plantas, que fornecem à dieta uma fonte muito importante de proteínas, além de uma quantidade considerável de fibras, antioxidantes e outros elementos benéficos. Sabemos que o clima, a pressão social e a comercialização afetam tanto os hábitos alimentares como as propriedades funcionais dos alimentos, mas sempre que possível devemos seguir um plano alimentar que proporcione bem-estar integral, e para isso, tanto o indivíduo quanto as comunidades e os governos locais devem realizar ações concretas visando ter gerações saudáveis e produtivas.