
Osteoporose: o que é, quais são, os tipos e os fatores de risco
Publicado: 30 Dezembro, 2022 - Actualizado: 1 Março, 2023 | 12'
As estatísticas da Organização Mundial de Saúde mostram que existem mais de 75 milhões de pessoas com osteoporose a nível europeu, Estados Unidos e Japão.
A osteoporose causa mais de 2 milhões de fraturas ao ano, principalmente nas ancas, vértebras e antebraços. É mais frequente em mulheres na pós-menopausa, estimando-se que aproximadamente 21% das mulheres entre os 50-84 anos de idade sofrem de osteoporose. Os homens acima dos 50 anos possuem também uma elevada probabilidade de sofrer de osteoporose.
Com a informação referida, vamos descobrir o que é a osteoporose, quais são as pessoas em maior risco de sofrer de osteoporose e o que podemos fazer para a prevenir, junto ao Doutor Álvaro Sanjuán, médico especializado em medicina desportiva, reabilitação e densitometria óssea.
O que é a osteoporose?
Segundo a OMS e a Sociedade Espanhola de Reumatologia, ”a osteoporose é uma doença esquelética de origem sistémica caracterizada por baixa massa óssea e deterioração da microarquitetura óssea, provocando uma maior fragilidade óssea e susceptibilidade a fraturas”.
Tipos de osteoporose
Os diferentes tipos de osteoporose são classificados da seguinte forma:
- Osteoporose primária: esta é a mais frequente, representando 90% dos casos, tanto em mulheres como em homens. Caracteriza-se principalmente por um aumento na reabsorção óssea que afecta a microarquitetura do osso, ainda que, em alguns casos, possa ser devido a alterações na formação óssea. Deve-se a fatores tais como deficiência hormonal nos dois sexos, menopausa, baixo consumo de cálcio e baixos níveis de vitamina D e hiperparatireoidismo.
- Osteoporose secundária: é responsável por menos de 5% dos casos nas mulheres e mais ou menos 20% nos homens. Está relacionada com condições ou doenças subjacentes, tais como doença renal crónica, doenças do sistema endócrino (hipertireoidismo, hipogonadismo, diabetes mellitus, etc.), hiperfosfatemia, alterações na calcemia e concentração sérica de vitamina D, mobilidade reduzida, tratamento com esteroides a longo prazo, ausência de gravidade prolongada (como ocorre em astronautas durante as viagens espaciais), alcoolismo, tabagismo, entre outros.
Sintomas de osteoporose
As pessoas com osteoporose são geralmente assintomáticas, e quando ocorre uma fratura, a patologia já está presente. Os sintomas que surgem são:
- Dor nas costas, que em muitos casos é causada por uma fratura vertebral.
- fraturas por fragilidade.
- Diminuição da altura.
- Alterações posturais, tais como inclinações.
Fatores de risco da osteoporose
Os principais fatores de risco para a osteoporose são: sexo (mais comum nas mulheres do que nos homens), idade (mais prevalente nas pessoas idosas), raça, estilo de vida (alimentação e sedentarismo), níveis hormonais, tabagismo e alcoolismo, menopausa, baixo índice de massa corporal, e fraturas ósseas prévias.
Osteoporose e Menopausa
Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a osteoporose é três vezes mais comum nas mulheres do que nos homens. Por quê?
Como explica o Doutor Álvaro Sanjuán, ‘a razão é, por um lado, o facto de as mulheres terem menos massa óssea e, por outro, as alterações hormonais que ocorrem durante a menopausa‘.
O maior pico de massa óssea ocorre por volta dos 30 anos de idade, depois estabiliza durante uma década, e a partir dos 50 anos há uma perda de massa óssea de até 0,5% por ano devido ao envelhecimento.
Os níveis de estrogénio são fundamentais para a preservação da massa óssea na idade adulta, então por volta dos 50 anos de idade, quando os níveis de estrogénio começam a cair, também diminui a massa óssea.
É possível prevenir a evolução da osteoporose na menopausa?
O segredo para manter uma boa saúde óssea e prevenir a perda óssea em pessoas em risco de osteoporose está na alimentação e no exercício físico regular.
‘Durante a menopausa, como já mencionámos, o estrogénio desempenha um papel fundamental na mineralização óssea. Portanto, especialmente durante esta fase, a massa óssea deve ser preservada para prevenir a fragilidade esquelética e reduzir o risco de fraturas‘, diz o médico.
Para isso, no momento da menopausa, a paciente deve ser cuidadosamente avaliada para conseguir determinar corretamente a sua condição.
Em muitos casos, isto requer modificações nos hábitos alimentares, padrões de atividade física, ingestão adequada de nutrientes essenciais para o esqueleto, etc. Também durante a menopausa é importante manter um peso adequado, minimizar a ingestão de cafeína e álcool e evitar fumar.
Osteoporose em homens com mais de 70 anos
Ainda que as mulheres na pós-menopausa sejam o principal grupo de risco, a Sociedade Espanhola de Reumatologia afirma que a osteoporose nos homens é subdiagnosticada, e ”estima-se que um terço das fraturas da anca em todo o mundo ocorrem em homens com mais de 70 anos. Além disso, a mortalidade após fratura da anca (mais de 37% no primeiro ano) é mais elevada do que nas mulheres”.
Consequências da osteoporose
A consequência são ossos frágeis que têm maior possibilidade de fraturas, causando dor e incapacidade funcional. O grau de incapacidade causado por fraturas vai depender da localização onde estas ocorrem.
Fraturas ósseas comuns
Segundo a Sociedade Espanhola de Reumatologia podemos diferenciar algumas delas:
- A fratura do radio distal do antebraço cura-se geralmente bem do ponto de vista funcional.
- A fratura do úmero proximal em alguns casos requer cirurgia e normalmente apresenta uma boa recuperação.
- A fratura da anca requer hospitalização e cirurgia em praticamente todos os casos e comporta um risco de mortalidade entre os primeiros 3-6 meses. A recuperação é lenta e muitas vezes parcial, por isso muitos pacientes permanecem permanentemente institucionalizados após uma fratura da anca.
- A fratura vertebral osteoporótica (FVO) é a complicação principal da osteoporose e define-se como a perda de mais de 20% da altura anterior, posterior ou central de uma vértebra. A dor de uma fratura por osteoporose -FVO- é de forte intensidade, produz-se com o movimento e pode levar a graves limitações funcionais. As consequências mais imediatas são a diminuição da estatura e da deformidade da coluna vertebral.
Como é diagnosticada a osteoporose?
O primeiro diagnóstico da osteoporose deve ser procurado a partir do historial médico e do exame físico do paciente. Devem ser avaliados quanto à presença de fatores de risco como, perda de altura superior a 3,81 cm (com medições anuais), excesso de cifose da coluna torácica, corcunda de viúva, cárie dentária, perda de dentes, retrações gengivais, dores nas costas, entre outros.
Uma vez efetuada esta avaliação inicial, pode ser realizada uma análise bioquímica do sangue para fornecer informações sobre a função renal e hepática, hiperparatireoidismo primário e possível desnutrição (níveis de cálcio, magnésio, vitamina D, etc.). Do mesmo modo, também detetar os marcadores metabólicos ósseos que são úteis para determinar o nível de reabsorção óssea.
As imagens radiológicas são outro fator-chave para identificar a osteoporose, porém, uma radiografia normal só pode sugerir uma diminuição na densidade mineral óssea, e por isso recomenda-se confirmar mediante a medição da densidade mineral óssea (DMO ou BMD, do inglês, bone mineral density).
A DMO é a quantidade de massa óssea por unidade de área, e a sua determinação fornece informações sobre a probabilidade de fratura e a base para avaliar a evolução dos pacientes. Existem diferentes métodos para medir a DMO, incluindo densitometria, tomografia e ultrassom.
A densitometria é o método mais utilizado para avaliar a densidade mineral óssea (DMO) pelo índice denominado SD. A Organização Mundial de Saúde define osteoporose como um conteúdo de DMO ou conteúdo mineral ósseo com mais de 2,5 desvios padrão ( DP) abaixo da média em relação ao adulto jovem.
Densitometria óssea, o que é e para que serve
Como explica o Doutor Álvaro Sanjuán, médico especializado em densitometria óssea: ”A densitometria óssea é uma medição do teor de cálcio dos ossos”.
Quem deve fazer o exame de densitometria óssea?
Este exame, prossegue o médico, ”realiza-se geralmente, nas mulheres após a menopausa, nos homens com mais de 50 anos com dores osteoarticulares, e em casos específicos, nos doentes com alterações graves de vitamina D3 e da hormona paratiroide no sangue, nos casos de alterações do metabolismo do cálcio e do fósforo, nos casos de politraumatismo para excluir a osteoporose pós-traumática, nos doentes em situação de repouso ou imobilização prolongada, ou nos doentes tratados a longo prazo com corticoides”.
A partir de que idade é recomendado realizar este exame?
Em geral, diz o Dr. Sanjuán, “é geralmente recomendado a partir da idade de 45-50 anos”, sendo, como já foi mencionado, altamente recomendado no caso de mulheres após a menopausa e homens com mais de 50 anos de idade com dores osteoarticulares.
Com que frequência deve a densitometria óssea ser repetida?
“A DMO é uma medida do teor de cálcio do osso em determinado momento, e por isso o importante é ver como evolui”, diz o Dr. Sanjuán. Por esta razão, ele continua, “dependendo do resultado do primeiro exame, seria realizado cada um, dois ou três anos (no máximo), sobretudo quando é administrado tratamento médico”.
Controlo da osteoporose
Segundo a Sociedade Espanhola de Reumatologia: “tanto na prevenção como no tratamento da osteoporose é importante reduzir os fatores de risco, prevenir quedas e recomendar uma ótima nutrição”.
As recomendações são as seguintes:
- Deixar de fumar e evitar o consumo excessivo de álcool.
- Exercício físico regular, de preferência exercício físico de força.
- Otimizar o índice de massa corporal.
- Exposição adequada à luz solar.
- Na prevenção de quedas, é importante adaptar o ambiente do paciente, identificar medicamentos que possam aumentar o seu risco e corrigir problemas de visão.
- Recomendar uma nutrição que inclua os 3 nutrientes básicos para a saúde óssea: cálcio, vitamina D e proteínas.
Dieta balanceada
As recomendações alimentares centram-se em alimentos que podem ajudar a preservar a massa óssea. Alguns exemplos são:
- Aumentar o consumo de alimentos ricos em cálcio, tais como leite, produtos lácteos desnatados, frutos secos e sementes, cereais integrais, vegetais verdes e sardinhas.
- Combine estes com alimentos ricos em vitamina D (peixe oleoso, ovos e arroz integral), e alimentos ricos em vitamina C (citrinos, pimentos, couves-de-bruxelas, agriões).
- Aumentar o consumo de verduras, frutas e legumes.
- Consumir leguminosas.
- Utilizar preferencialmente óleos de sementes ou de oliva (fontes de gordura insaturada rica em vitamina E).
- Consumo moderado de proteínas animais (carne, peixe, ovos).
- Consumir de preferência peixe, sobretudo peixe gordo, devido ao seu teor de ácidos gordos essenciais (Omega-3).
- Limitar o consumo de alimentos de origem animal ricos em gorduras saturadas.
- Reduzir o consumo de café, álcool, bebidas gaseificadas e açúcar.
- Consumo moderado de sal.
Suplemento de cálcio e vitamina D
Como já foi dito, os níveis de cálcio e vitamina D são cruciais para uma boa saúde óssea e são recomendados por várias sociedades e pela Organização Mundial de Saúde.
Detenhamo-nos nas razões e nas quantidades propostas.
- Cálcio: é o mineral mais abundante no corpo humano, com um conteúdo de 1,2 kg. Além disso, 99% do cálcio presente no corpo está localizado nos ossos e dentes. O pico de massa óssea (PMO) é um dos fatores chave que determinam a massa óssea e o risco de fratura no futuro, sendo o cálcio um elemento básico para a sua obtenção. Existem estudos que demonstraram que a suplementação de cálcio é eficaz na redução da perda óssea nas mulheres na fase pós-menopausa tardia (>5 anos pós-menopausa), especialmente aquelas com baixo consumo habitual de cálcio (<400 mg/dia)5. As recomendações de ingestão vão de 800 a 1000 mg/dia.
- Vitamina D: é produzida na pele pela ação da luz ultravioleta. A vitamina D promove o equilíbrio do cálcio melhorando a absorção intestinal do cálcio e estimula a formação da matriz óssea e a maturação óssea. A deficiência pode aumentar o risco de sofrer fraturas, e em mulheres na pós-menopausa, a vitamina D combinada com uma suplementação de cálcio demonstrou reduzir a taxa de perda óssea e também melhorar a força e o equilíbrio muscular, reduzindo o risco de quedas 3,5. A dose recomendada situa-se entre 400-800 UI/dia de vitamina D.
Existem também outros dois minerais de interesse para o bem-estar ósseo, o magnésio e o zinco, o primeiro esta implicado na manutenção da estrutura óssea e o segundo na formação e mineralização óssea. A ingestão dos dois minerais deve cobrir 300 mg/dia para o magnésio e 10-25 mg/dia para o zinco.
Prevenção de quedas
É importante que o especialista informe devidamente o paciente com osteoporose sobre os riscos de quedas e fraturas. Como explica o Dr. Sanjuán, “é necessário controlar a segurança em casa, verificar se há algum medicamento que possa afetar o equilíbrio e a coordenação do paciente, e desenvolver programas individuais para ajudar a melhorar a estabilidade física e evitar fraturas”.
Algumas dicas para evitar quedas são: evitar andar em terreno irregular ou húmido sem calçado apropriado, evitar andar no escuro em casa, o calçado deve ser adequado e apoiar totalmente o pé, exercícios de higiene postural, atenção ao subir e descer escadas, adaptar a casa de banho para evitar escorregamentos, entre outros.
Dentro destes programas, os exercícios de reforço podem proporcionar uma melhor estabilidade.
O exercício físico ajuda a osteoporose?
“O exercício é sem dúvida fundamental para fortalecer a musculatura e reduzir a perda de massa óssea, e também para prevenir quedas em pessoas com osteoporose”, diz o médico.
Para as pessoas com osteoporose, recomenda-se geralmente a prática de exercícios de suporte de peso, aos quais seriam:
- Exercícios de equilíbrio como o tai chi ajudam a reduzir o risco de quedas.
- A combinação de exercícios de equilíbrio com treino de força ajuda a fortalecer os músculos e ossos dos braços e da coluna vertebral superior.
- Exercícios com peso, tais como caminhar ou subir escadas, ajudam principalmente os ossos das pernas, ancas e coluna vertebral inferior.
- Para pessoas com cifose (curvatura extrema da parte superior das costas), os estudos mostraram a eficácia do exercício com pesos, treino de força muscular e de equilíbrio.
Os exercícios que não são recomendados para pacientes com osteoporose são os de alto impacto, tais como correr ou saltar, “pois, podem causar fraturas nos ossos enfraquecidos“, explica o Dr. Álvaro Sanjuán.
“É importante saber que estes são alguns exemplos genéricos, e que a melhor recomendação do tipo e duração das atividades físicas podem ser também fornecidas pelo seu doutor em função do seu histórico médico“.
Qual é o impacto da osteoporose na qualidade de vida?
Como já vimos, as complicações clínicas mais comuns da osteoporose são a fratura e deformação vertebral, e também as fraturas da anca e punho. Em casos mais extremos há um risco de mortalidade devido a qualquer uma destas complicações.
As fraturas da anca são as que mais prejudicam a qualidade de vida, devido à disfuncionalidade que produzem.
A dor é um sintoma importante que tem um impacto negativo considerável nas atividades diárias, o que também afeta o nível emocional e social.
Foi demonstrado num estudo de avaliação da qualidade de vida em mais de 700 pacientes com osteoporose, osteopenia e sem envolvimento ósseo, verificou-se que dentro da população de osteoporose, mais de 40% dos pacientes relatam ter algumas dificuldades para andar e outro grupo tem problemas em realizar atividades da vida diária (23,94%). Além disso, mais de 45% dos pacientes com osteoporose relatam ter dores, e 14,09% dizem estar muito ansiosos/deprimidos.
Por conseguinte, um diagnóstico precoce da osteoporose juntamente com uma intervenção adequada, já que tenha ou não ocorrido uma fratura, são fundamentais para reduzir o impacto no estado de saúde e melhorar a qualidade de vida do indivíduo.
Artigo elaborado pelos especialistas da área de Informação Científica MARNYS com a colaboração do Dr. Álvaro Sanjuán. Este artigo é informativo e não pretende em caso algum substituir a consulta de um especialista.
Sobre el especialista
O Doutor Álvaro Sanjuán é um médico especializado em medicina desportiva, reabilitação e densitometria óssea.