Como recuperar-se de uma lesão e voltar a correr?

Publicado: 30 Janeiro, 2023 - Actualizado: 25 Outubro, 2023 | 6'

Uma vez que sabemos porque é que ocorrem lesões desportivas e quais são as mais frequentes, e o que fazer para evitar as lesões mais frequentes em corredores, é importante informarmo-nos sobre o que fazer após uma lesão.

De mãos dadas com a Dra. Yaiza Acosta, médica desportiva, e a responsável pelo Departamento de Informação Científica da MARNYS, Maria Mercedes Sánchez, conhecemos as principais recomendações para uma recuperação ótima após uma lesão desportiva. Especialmente no caso de corredores ou "runners".

O que fazer em caso de lesão desportiva?

As principais lesões desportivas estão geralmente relacionadas com tecidos moles: entorses, distensões, ruturas e hematomas, que afetam os músculos, tendões, ligamentos e articulações.

De um modo geral, como explica a responsável pelo Departamento de Informação Científica da MARNYS, Maria Mercedes Sánchez, se sofrermos uma lesão desportiva, o primeiro passo é procurar assistência médica imediata, tendo em conta 4 fases¹⁴:

Primeiros socorros em caso de lesão desportiva: nos primeiros três minutos, faz-se uma primeira avaliação da lesão e posteriormente, os especialistas médicos determinarão o procedimento a seguir.
Tratamento: nos três dias seguintes, tendo em conta o esquema RICE (de acordo com o tipo de lesão): (R) repouso, (I) gelo (ice), (C) compressão, (E) elevação e obtenção de referências (R) para um tratamento médico apropriado.
Reabilitação: nas três semanas seguintes, geralmente procede-se à reabilitação. Dependendo do tipo de lesão, pode ser necessária uma reabilitação ativa com exercícios e atividades controladas que aceleram o processo de recuperação.
Condicionamento: por último, nos três meses seguintes após uma lesão e dependendo sempre do tipo e gravidade da mesma, realiza-se um processo gradual de regresso ao treino, selecionando exercícios que ajudem a prevenir a repetição da lesão inicial.

Qual o especialista responsável pelo diagnóstico de uma lesão desportiva?

Ambas as especialistas concordam que deverá ser um médico desportivo e/ou traumatologista qualificado ou um fisioterapeuta profissional, o especialista responsável por obter um diagnóstico mais preciso da lesão, para poder conceber e iniciar um programa específico de reabilitação.

Tratamento e recuperação das lesões mais comuns em corredores

Em geral, como afirma a Dra. Yaiza Acosta, médica desportiva: "as 4 fases descritas acima repetem-se para diferentes lesões desportivas, mas o tratamento e reabilitação das lesões não são sempre os mesmos, devendo ser personalizados".

Podemos ver as principais diferenças no tratamento e recuperação das lesões mais comuns entre corredores ou 'runners':

Recuperação da articulação do joelho do corredor

Os corredores podem sofrer degeneração da cartilagem articular devido a sobreuso, força anormal no joelho ou traumatismos. Sentem dor e sensibilidade na rótula especialmente quando estão sentados durante muito tempo, ao levantarem-se ou ao subirem escadas.

Recomenda-se repouso, gelo, terapia anti-inflamatória e limitação da atividade até que a dor desapareça, para, em seguida, gradualmente voltar às atividades. Deve ser implementado o alongamento e fortalecimento do quadríceps, evitando qualquer movimento ou exercício que aumente a tensão no joelho.

Esta lesão responde muito bem tanto ao tratamento terapêutico como à reabilitação, no entanto, uma má gestão pode levar à degeneração da cartilagem, provocando uma cicatriz que roça no osso e aumenta o atrito, limitando a mobilidade e atrasando o regresso à atividade desportiva.

Recuperação de uma tendinite do tendão de Aquiles

Esta lesão ocorre no corredor devido à tensão repetitiva no tendão, causando muita dor e inflamação. Também pode ser causada por um calçado inadequado para correr ou lesões não tratadas na panturrilha. Limita a contratilidade dos músculos, impedindo os movimentos.

O tratamento imediato consiste em repouso, redução ou cessação da atividade (pelo menos 5 a 10 dias), aplicação de frio/calor, massagem e medicação anti-inflamatória. Após o período de repouso, a atividade pode ser iniciada com exercícios suaves de alongamento e fortalecimento, aplicando calor prévio à zona do tendão, e devem ser exercitados os músculos da panturrilha.

A reabilitação da tendinite pode durar algumas semanas e, se for realizada adequadamente, geralmente não deixa sequelas a longo prazo.

Fratura por esforço

O impacto repetitivo da corrida pode causar pequenas fissuras no osso e ocorrem na maioria das vezes na tíbia. Outras causas podem ser a baixa densidade óssea e a fadiga muscular. Existe sensibilidade localizada com inflamação e dor ao suportar peso ou fazer exercício físico.

No caso de ocorrer alguma destas fraturas, deve-se aplicar o esquema RICE anteriormente descrito, e realizar terapia anti-inflamatória; se houver disfunção, consultar imediatamente um médico desportivo.

Deve-se repousar durante 4 a 6 semanas (conforme o controlo evolutivo), e em seguida, iniciar a fase de reabilitação com fortalecimento dos músculos da panturrilha, atividades de baixo impacto (como natação, elíptica e/ou bicicleta estática) e fazer um aquecimento adequado antes de exercitar o osso, para limitar o impacto.

Uma fratura por esforço que não seja bem gerida pode acabar numa fratura completa e afetar os nervos adjacentes.

Entorse dos isquiotibiais

É uma lesão muito comum em corredores quando aceleram ou fazem sprints, resultando numa rutura dos músculos isquiotibiais devido a uma carga excessiva no músculo. Há dor, sensibilidade muscular que afeta a mobilidade e a capacidade de suportar peso.

O tratamento inicial é "repouso, gelo/calor, redução da inflamação", e será solicitada uma ecografia para avaliar as semanas de recuperação, e em seguida, pode ser iniciado o massagem desportiva, explica a Dra. Yaiza Acosta.

A reabilitação baseia-se em alongamento e fortalecimento dos isquiotibiais, com especial atenção para fazer um aquecimento adequado, aumentando gradualmente a intensidade.

Os entorses dos isquiotibiais, quando completamente reabilitados, raramente deixam efeitos persistentes. No entanto, se não forem reabilitados adequadamente, podem causar problemas na região lombar e na anca.

Quais são as consequências de uma lesão desportiva?

Como podemos ver, dependendo do tipo de lesão e da sua gravidade determinada pelo especialista, ambas as especialistas também concordam que serão analisadas as consequências desportivas. Um aspecto muito importante, salienta a Dra. Acosta, é que "uma vez ocorrida a lesão, é importante ter em conta que uma gestão deficiente da recuperação pode ter consequências mais graves".

Alguns dessas consequências vão desde uma recaída na lesão, até outras situações decorrentes de lesões mal curadas, tais como diminuição da mobilidade, perda de força e flexibilidade, especialmente nos tendões e ligamentos, hérnia muscular, subluxações crônicas, alteração da cartilagem articular, deficiente ossificação após uma fratura, calcificação de um hematoma, formação de cicatrizes dolorosas, problemas na região lombar e na anca, etc.

Referências

Cinovcic Abarca, D. F. Fascite plantar em corredores amadores. Universidade Fasta Faculdade de Ciências Médicas Licenciado em Cinesiologia. 2013.
de Hoyo, M. et al. Revisão sobre lesões da musculatura isquiotibial no desporto: fatores de risco e estratégias para a sua prevenção. Revista Andaluza de Medicina del Deporte. Volume 6, edição 1, março de 2013, páginas 30-37.
López Pérez, D. Trabalho de fim de curso em fascite plantar. Escola Universitária de Fisioterapia, Campus de Soria, Licenciatura em Fisioterapia, 2014.
Magill, P. et al. Build Your Running Body: A Total-Body Fitness Plan for All Distance Runners, from Milers to Ultramarathoners—Run Farther, Faster, and Injury-Free. The Experiment, LLC, 2014. ISBN 978-1-61519-102-4.
Martín Urrialde, J. A. et al. A síndrome da banda iliotibial ou do joelho do corredor. Revisão de casos. Fisioterapia Volume 23, edição 3, 2001, páginas 127-134.
Mokone, G. G. et al. O gene COL5A1 e a patologia do tendão de Aquiles. Scand J Med Sci Sports 2006: 16: 19–26.
Moreno Pascual, C. et al. Epidemiologia das lesões desportivas. Fisioterapia 2008;30(1):40-8.
Osorio Ciro, J. A. et al. Lesões desportivas. IATREIA. Vol. 20, No. 2; junho de 2007.
Pfeiffer, R. P. & B. C. Mangus (ed.). As lesões desportivas. 2ª edição. 2007, Editorial Paidotribo. ISBN: 978-84-8019-908-7.
Rafaela Rosas, M. Lesiones Deportivas: Clínica y Tratamiento. OF. Vol 30 Núm 3 Mayo-Junio 2011.
Runner's World Essential Guides: Injury Prevention & Recovery: What Every Runner Needs to Know About Getting (and Staying) Healthy. Editorial: Rodale Books (4 setembro 2012).
Shimabuco Zegarra, A. H. Abordagem fisioterapêutica na síndrome do corredor. Universidade Inca Garcilaso de la Vega, Faculdade de Tecnologia Médica, 2022.
Vílchez Conesa, M. P. Incidência das Lesões Desportivas no Corredor Amador. Cultura, Ciencia y Deporte, vol. 5, núm. 15, 2010, p. 32.
Walker, B. A anatomia das lesões desportivas. 2005, de Simeon Niel-Asher. ISBN: 978-84-9910-120-0.

Conteúdo elaborado com a responsável pelo Departamento de Informação Científica da MARNYS e com a colaboração da Dra. Yaiza Acosta. Este artigo é informativo e não substitui a consulta a um especialista.

Sobre a especialista

Dra. Yaiza Acosta @dra_saludable

A Dra. Yaiza Acosta é licenciada em medicina e cirurgia, especialista em medicina física e desportiva pela Universidade de Barcelona e especialista em nutrição e dietética aplicada. Além disso, promove um estilo de vida saudável através das suas redes sociais @dra_saludable.

Especialistas em saúde